Resto

Me deem uma camisa de força.
Sou louca. Se me deixarem solta eu me machuco, autoflagelo.
A dor não me parece motivo plausivel para parar de me bater.

É certo matar de dentro de si as pessoas que ainda continuarão vivas?
É certo suicidar-me e continuar respirando?

A única coisa que talvez eu ainda não tenha tentado foi o suicidio.
Anular-me.
Negar a mim.

Me matar toda vez que eu quizer aquilo que deveria acreditar que não adianta querer.

Cortarei os pulsos cada vez que as mãos ansiarem o telefone.
Me enforcarei quando a voz quizer dizer todas aquelas coisas que nunca fazem diferença.
Dar-me-ei um tiro nos ouvidos cada vez que achar ainda possivel ouvir aquelas palavras todas.
Me afogarei em agua sanitaria quando a imaginação tentar viver o que eu deveria achar impossivel.
Quem sabe aquelas visões desbotam até desaparecerem pra sempre.
Furarei meus olhos para que jamais desejem ver coisas invisíveis.

Em pouco tempo, o que restar de mim, será irreconhecível.

Serei talvez um pedaço de carne igual a esses tantos que andam por aí.

Mais doloridas que as feridas do corpo,
São as multilações que nos obrigam a fazer no espírito.

Multilações sacrificantes.

Quem sabe eu sobreviva.
Acorde um dia de um estado de coma induzido, ou não.

Não existe o existir-me sem acreditar.
Não acreditar é acabar-me.




Bju da Lis* enquanto ainda restam os lábios.